segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sóis das Manhãs

Não há nada mais agradável, no inverno, do que andar na rua, sem pressa e sem destino, sob o sol da manhã. Sempre achei que há nele qualquer coisa de encantado: tudo o que é tocado por ele se enche de brilho, de cor, de algo novo e inexplicável. Desde as pedras do calçamento tosco da rua até os arbustos no morro gramado, tudo – tudo parece que acabou de surgir, que nada existia durante o escuro.

As pedras, o verde das árvores, as casas, os carros... Tudo é diferente pela manhã. Até o movimento nas ruas é menor... Como se tudo parasse para apreciar o raríssimo espetáculo da natureza que acontece em todas as manhãs de céu claro.

(Não, não é que as manhãs de céu claro sejam raras, especialmente no inverno. Raro é encontrar pessoa que, no meio da manhã, perceba a beleza do quadro.)

Tudo fica parado; e o que não para, move-se lentamente... Os gatos dormem na varanda, para sempre imobilizados pela letargia gostosa trazida pelo sol; a cadela descansa eternizada no fundo do quintal; os pássaros cantam, mas não se vê um sequer passar no céu: só se ouve o som. Tudo parece parado e alegre, tudo parece eterno, na poesia escrita pelo sol morno e amarelo das manhãs de inverno seco do sudeste brasileiro.

Enquanto ando a esmo, o sol inunda meus pensamentos e, por alguns momentos, nada mais existe em minha mente, nenhum problema, nenhum vazio. Deixo o sol da manhã bater na pele, romper as carnes, penetrar nos ossos e invadir o coração – aquecer a alma...

Pela manhã – penso sem palavras, cerrando os olhos sob a luz – todas as pessoas parecem grávidas: um brilho diferente nos cabelos, na pele, nos olhos, nos sorrisos... Estão todas grávidas da vida que só vai se romper à tarde, depois do meio-dia, quando o mundo, que antes parecia um quadro, estático, ganha movimento, agitação, pressa, correria... Todas estão grávidas do novo mundo que só se romperá à tarde, quando o sol já será outro, as árvores não serão tão verdes e o ar não será mais o bafo morno de calma, quietude e alegria, mas um ar árido, ainda que parado, de cansaço e pressa. É nesse mundo que o útil e necessário à fabulosa vida moderna é criado.

Neste momento, não quero nada útil. Quero coisas inúteis, maravilhosamente inúteis; belas e que deem prazer à alma. Como o sol da manhã.

Nenhum comentário:

Postar um comentário