terça-feira, 18 de janeiro de 2011

De Criança e de Velho

Desde muito pequena, sempre tive um pouco de criança e de velho.

Às vezes, eu me comporto como uma criança, com medos infundados, comentários inoportunos, gargalhadas desmedidas e fora de hora, imaturidade emocional e preguiça. E vem a decepção. Mulher feita, podia ser mãe há muitos anos, fazendo isso, sentindo aquilo...

É horrível decepcionar-se consigo mesmo.


A pior decepção possível é consigo mesmo.

Mas comecei a perceber que, se às vezes sou muito infantil, é pra equilibrar meu lado velho. Um lado que já vê o mundo com saudades, mesmo do que não está lá, mesmo sem saber do quê. Um lado que vê o mundo com olhos de despedida.

Sou um misto do tempo, um pouco de criança e outro tanto de velho. Não necessariamente meio a meio, não necessariamente numa proporção estática o tempo todo. Ninguém é uma coisa só o tempo todo, por que justo eu haveria de ser, tenham paciência!

O cansaço fora do normal que sinto de vez em quando são as vezes em que a criança dorme, e o velho toma conta de mim por inteiro. A saudade, a melancolia, a solidão... Reumatismos da alma. Não, não esses sentimentos no dia a dia, justificados e compreensíveis, comuns mesmo a todos os seres sentintes (pois só são comuns a quem sente, não se sabe se todos os viventes sentem, ora essa! É só ligar a tevê pra ter certeza que há entes que não sentem.), mas sim uma onda desses sentimentos, que me invade abruptamente, sem motivo aparente – e vai invadir sempre. Nessas horas ela sou velha, completamente.

Por isto perdi em alguma esquina o medo de envelhecer: uma parte de mim já está lá, do outro lado da ponte, aonde tantas pessoas têm medo de chegar. E minha outra parte ficará eternamente do lado de cá, pois mesmo quando velhinha, caducando em algum asilo, não largaria minha criança. Meu lado que vê graça no mundo, que ri e sente prazer nas pequenas coisas, e que não acha que felicidade era artigo caro. E raro. Meu lado que vê o mundo com olhos ávidos, sedentos, curiosos – olhos de primeira vez.

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