Estou indignada. Estou pasma. Estou anestesiada com essa violência gratuita que invade nossos lares, através dos jornais impressos, dos telejornais que derramam na mesa das refeições o sangue das tragédias urbanas. Será que não há mais nada pra se noticiar neste mundo? Só existe desgraça acontecendo por aí? O sangue e a tragédia é que dão ibope?
Procuro a arte como forma de resolver meus problemas. De criticar esse sensacionalismo, essa banalização da violência, para que os artistas e o público possam se fazer essas perguntas, possam questionar o mundo, buscar ver alguma poesia no cotidiano. Para que percebam que por trás dos números de mortos, feridos, desabrigados, desaparecidos, há pessoas - com nome, família, sonhos perdidos, vidas tiradas. Pessoas que sofrem de verdade, que não têm tarja preta nos olhos, iniciais em lugar de nomes, sangue de catchup: que não são simplesmente uma foto de jornal.
Acredito na arte como ferramenta para os problemas individuais e coletivos. Não é à toa que o teatro vem saindo do palco e ocupando os hospitais, as escolas, os presídios, os bairros, as ruas: é um meio de expressão das nossas inquietações, ansiedades, inadequações e insatisfações. É um espaço de debate, de leitura da realidade, de reflexão, para a construção da cidadania em nossos jovens, do compromisso com o outro e com o mundo. "O Teatro não transforma o mundo, mas nos mostra que é preciso transformá-lo" (salve Dias Gomes). Não é o que fazemos ao levar para o palco a crítica dos meios de comunicação - formadores de opinião pública, ao invés de aceitar todos os fatos noticiados como verdades inelutáveis?
Acho também que a escola não deve servir só para transmitir conhecimentos: sobretudo, deve promover o desenvolvimento das habilidades sociais, comunicacionais, emocionais, relacionais e críticas. Por isso debater a violência através do teatro, através do jornal, através da educação. Através de elementos pulsantes e vivos da nossa sociedade.
Peça "Notícias Populares", dias 23 e 24 de outubro de 2010, às 19h30, no Teatro Academia.
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