domingo, 16 de janeiro de 2011

Chuva de Natal

Natal com chuva tem sabor de infância.

São seis, sete da noite. Sou criança e estou sentada na sala, com a luz apagada. A noite entra aos poucos pela porta de vidro, trazendo ainda a fraca luz do dia chuvoso. A árvore brilha acesa, toda colorida, piscapiscando natalices. O dia esbranquiçado lá fora sopra um vento gelado no calor abafado da sala de visitas onde eu, toda ansiedade, tule e tafetá, espero a festa.

Que sempre é igual, todos os anos. O que muda, na cena que revivo na memória, é o antes: se o entardecer tem chuva ou não. Agora mesmo, enquanto me revejo sentada cor-de-rosa à minha frente, um vento gelado e úmido me chega às costas pela janela. É natal e tem chuva. Ao contrário dos anos da minha infância, não há um só presente sob a árvore. Os primos não vieram. Alguns parentes já não estão mais sobre a terra. A gata passeia displicentemente pela sala, sem se esfregar nas pernas dos convidados. Porque não há convidados. Não há terezinhas ou marias que ajudem com as dezenas de pratos da ceia, como vejo acontecer no natal simultâneo da menina, porque agora os pratos da ceia não somam dezenas. Tudo mudou, tudo agora está diferente.

Mas há a chuva, como nos natais da minha infância.

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